Por Octavio Aragão (artigo originalmente publicado no jornal AcheiUSA)
The past is not dead, it is living in us, and will be alive in the future which we are now helping to make
William Morris
Never underestimate the power of human stupidity.
Robert A. Heinlein
O tempo, para os políticos, é percebido de maneira diferente.
Enquanto cada um de nós economiza em cadernetas de poupança, faz planos para a velhice e pensa na aposentadoria, o máximo que um político consegue em termos de vislumbre do futuro são as próximas eleições. Imaginem como deve soar surrealista para um deputado ou um senador quando alguém fala que, se não pararmos de poluir a Terra agora, nossos netos herdarão uma bola de lama solta no espaço.
Pois é. Nossos netos, vejam só que coisa curiosa, essas pequenas criaturas que, em sua grande maioria, nem foram geradas ainda e que, por isso, não estarão de posse do título de eleitor em menos, de, com sorte, caso as crianças estejam sendo geradas neste instante, dezesseis ou dezoito anos. Ou seja, qualquer atitude política que leve em consideração eleitores intra-uterinos não será levada a sério por nossos representantes governamentais (que, sempre é bom recordar, exercem mandatos, contratos usados para regulamentar uma autorização que se faz a outras pessoas para praticar atos em seu nome ou administrar seus bens, no caso, o bem público).
Aí, pergunto: como poderíamos fazer para acelerar esse relógio? Parece que nosso consumo, de acordo com um relatório publicado pela ONG World Wildlife Fund, já supera em 30% a capacidade de reposição do planeta, o que sugere que não são apenas os políticos que precisam acertar os ponteiros. No entanto, o Brasil ocupa o quarto lugar na lista dos maiores mercados mundiais de automóveis e o sexto no ranking de fabricantes. É muito carro, não? E os belos números que colocam Rio e São Paulo como cidades mais poluídas que Nova York e Londres? Isso me faz recordar aquele eufemismo da época do governo militar: “poluição é sinônimo de desenvolvimento”.
Ok, somos todos contra a poluição. Somos todos contra a corrupção. Mas somos todos a favor de conforto. Queremos ar condicionado e automóvel na garagem, de preferência um para cada membro da família. Queremos fartura de eletrodomésticos e adoramos um motor a combustão porque temos pressa. Queremos correr o tempo todo, chegar primeiro, demorar o mínimo no trânsito e o máximo nos ambientes climatizados.
É hora de fazer escolhas e entender que os homens que escrevem as leis refletem – queiramos ou não – as vontades e os caprichos de seus eleitores. Esperar que os políticos e sua lógica eleitoral sejam capazes de lidar sozinhos com um problema de causa e efeito geracional dessa magnitude é quase o mesmo que pedir para um deficiente visual descrever o espectro solar, eles não possuem equipamento específico para a função. É necessário que nos conscientizemos de nossa responsabilidade individual e tiremos o máximo de tomadas dos plugões.
É isso ou enfrentar o fim dos tempos.
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